RealezaErê porque nossa ancestralidade vem de reis e rainhas
“RealezaErê, nome dado ao ensaio fotográfico realizado pela Amdem para promover junto à criança e adolescente, a valorização da cultura afro, a elevação de sua autoestima, a capacidade de olhar para si mesmo e perceber-se pessoa com uma história viva e concreta e, por isso, capaz de ser protagonista de sua existência no mundo”, afirma a coordenadora Fátima Cruz, da Associação Mogicruzense de Defesa da Criança e Adolescente.
Na primeira edição do “RealezaErê”, foi trabalhada a proposta temática da Africanidade, por meio do uso da estética afro presente nos samakaka (tecido africano) e na sua utilização para produção de diferentes formatos de turbantes e roupas amarrações, deixando as crianças e adolescentes livres o uso dessas produções. Foram feitos registros fotográficos com as roupas que muitas trouxeram de casa, com fantasias que foram disponibilizadas por pessoas que colaboraram com o projeto.
Relatos de situações de discriminação e racismo passadas no ambiente escolar; as rejeições em determinados estabelecimentos; a falta de referencias que valorizem a representatividade em todos os tons de pele; os estereótipos midiáticos que estão longe das realidades vivenciadas no território onde habitam; a negação da cor da pele negra, como uma das formas de defesa e proteção para conseguir a aceitação em ambientes e por pessoas que não as enxergam da mesma forma que tratam as crianças-não negras, fizeram com que a AMDEM criasse e crie estratégias de ações que permitam que as crianças e adolescentes, que frequentam as atividades oferecidas pela entidade, se reconheçam, desenvolvam a identificação com sua afrodescendência pelos aspectos positivos dos valores, da tecnologia, da cultura das diferentes etnias presentes no Brasil.
RealezaErê reafirma que as crianças e adolescentes, bem como seus pais e mães, avós, enfim a população negra brasileira descende de reis e rainhas, príncipes e princesas e portanto, é reavivar essa origem capaz de nos fortalecer na identidade, na luta garantir nossos direitos com igualdade e nossa cidadania. O orientador social Igor Alexsander, que foi um dos fotógrafos, reforça esse sentido quando comenta e afirma: “Nunca tirei tanto foto na vida, mas valeu e muito! Nossas crianças, nosso povo. Em meio a uma sociedade doentia e preconceituosa, existe um lampejo de esperança. Abram alas para o rei, me considero assim, pois só ando entre reis e rainhas! Reis e Rainhas, Erês!”
O projeto contou com a participação da equipe AMDEM que atuou como fotógrafos, produtores de cenários, cabelereira, juntamente um grupo de pessoas voluntárias que estiveram presentes na sede da associação, no dia 18 de outubro de 2019, que além de contribuírem nas mesmas funções atuaram na produção, como maquiadoras, fazendo turbantes, enfim styling arrumando as crianças e adolescentes. Outras pessoas também ajudaram enviando fantasias, acessórios como bijuterias, lenços, roupas para compor a produção. Vale ressaltar os momentos de preparação e dialogo na equipe AMDEM, com as crianças e adolescentes, com as pessoas responsáveis por elas, e as que assumiram o compromisso em diferentes ações como voluntárias.
AMDEM acredita no uso da fotografia como instrumento de reconhecimento e pertencimento a história da família, da comunidade, da escola, do território, do trabalho, enfim dos espaços onde nos relacionamos e vamos desenvolvendo nossas habilidades de interação, integração, de protagonismo. A fotografia certeza além de documentar um momento da história, no tempo e no espaço, para a Associação esse primeiro ensaio cumpre o papel de possibilitar as crianças e adolescentes, que frequentam as atividades desenvolvidas, elevar a autoestima, perceber que para beleza não há padrões e que há diferentes estilos individuais que compõe o coletivo, criar performances, possibilitando o exercício do lúdico, mas também que são capazes de dizer não ao preconceito e conhecer a história real dos que foram escravizados em nosso país e que não aceitaram pacificamente.
O projeto continuará registrando a beleza existente na diferença, promovendo a representatividades, belezas sem padrões, o empoderamento, a igualdade, a autoestima, o autocuidado, a percepção de cidadania, das identidades, agindo estrategicamente por uma sociedade mais democrática.
Vejam as fotos: